Quando me formei, em Direito, lá no finalzinho dos anos 90 já estava acostumada, desde os tempos de estágio, a me vestir de maneira formal. Eram roupas que no início incomodavam um pouco para quem até então usava apenas jeans e tênis, mas que depois de um tempo passou a se tornar normal. A dificuldade naquela época era ter dinheiro para comprar roupas tão caras mas me recordo bem de que esta era a dificuldade, só esta.
O tempo passou, larguei a profissão de advogada e criei , junto ao Ricardo Terrazo (hoje Canal Masculino) o Bazar Pop mas é claro que continuei em contato com amigas do Direito, umas advogadas, outras juízas. Voltei para o jeans que é uma peça super democrática e fácil de usar mas as amigas continuaram com suas roupas sociais ultra formais e o que eu ouço, já há alguns anos, é a dificuldade delas em encontrar boas roupas para o trabalho.
Se na década de 90 tínhamos marcas femininas incríveis como Club Colors (que era do grupo Valdac, o mesmo da Siberian), Gregory, Viva Vida e até a Zara, então recém-chegada no país, hoje pouco restou das grifes que eram meu destino certo para colocar alguns ternos e tailleurs no armário.
Club Colors fechou há muito tempo, o mesmo aconteceu com a maravilhosa Viva Vida, a Gregory vem apresentando uma queda tão grande na qualidade que eu nem reconheço mais a marca e a Zara se tornou cada vez mais casual, embora ainda seja um dos poucos lugares onde é possível encontrar roupas para um trabalho mais formal também. Me lembro que até Luigi Bertoli possuía algumas opções de ternos naquela época, o que hoje não acontece mais.
A gente sabe que nas últimas décadas o mundo vem se tornado mais casual, isso é resultado das novas gerações que ingressaram, lá atrás, no mercado de trabalho e possuem uma cabeça mais aberta, em todos os sentidos, incluindo o dress code (o que é uma benção), mas ainda existem profissões em que as mulheres precisam se vestir de maneira formal, que imponha respeito ou até autoridade. Mas saiba que não são apenas estas, as que trabalham em ambientes menos rígidos e não querem usar um moletom e jeans também acabam encontrando dificuldade para se vestir bem.
Claro que se a conta bancária for mais recheada é possível mudar o foco destas marcas médias que citei para as grifes de luxo e então tudo fica mais fácil. Giorgio Armani, Ralph Lauren e até Gucci contam com peças clássicas e chiquérrimas para quem precisa participar de uma audiência ou de uma reunião importante de negócios mas vamos ser realistas, isso não é acessível para muita gente.
A ideia de escrever este post surgiu da leitura de um post no site The Business of Fashion que falava justamente deste tema e como a indústria da moda nos EUA vem tentando abocanhar um mercado em que muitas lacunas existem, exatamente como aqui. Até uma pesquisa foi conduzida com mulheres entre os 25 e os 55 anos expondo suas dificuldades em conseguir roupas para o trabalho (quem quiser ler o texto completo pode clicar aqui). Porém, esse assunto lá no BOF acabou por me chamar atenção justamente porque ouço muito aqui no Brasil, das amigas do Direito, como elas sentem dificuldade em encontrar roupas boas para o trabalho. Uma delas comentou recentemente que continua usando suas roupas de 10 anos atrás, em um suspiro de alívio de ainda caber nestes trajes, já que novas peças estão cada dia mais difíceis de encontrar, principalmente levando em conta que algumas das poucas marcas disponíveis no mercado ainda entraram para o rol das que usam trabalho escravo em sua confecção, o que acabou por tirá-las da lista de opções válidas no momento de fazer compras.
Mas então o que restou hoje para compra de roupas para o trabalho?
Vou listar o que temos hoje e que vale a pena dar uma olhada. É claro que existem outras mas que são menores e nem sempre facilmente encontradas em grandes centros comerciais:
– Cori: sempre foi uma ótima marca, sinônimo de qualidade e sofisticação, mas passou por um período de baixa há alguns anos e só agora vem se mostrando novamente a marca que foi no passado. Na última coleção de inverno desenvolveu casacos com a Loro Piana
– Brooksfield Donna: uma das que eu mais gosto nos dias de hoje, mas absurdamente cara, há calças e camisas por volta de R$700,00 a R$1.000,00 porém acaba de entrar para a lista negra do trabalho escravo pois foi pega há algum tempo nesta situação. Sejamos honestos, é necessário apelar para mão-de-obra escrava quando se cobra tanto dinheiro por uma única peça de roupa?
– Le Lis Blanc: já gostei bem mais. Hoje ainda oferece peças de maior qualidade mas vem mostrando uma mudança no estilo que não vem me agradando nos últimos anos. Precisa procurar bastante.
– Zara: ótima opção, embora seja outra com problemas em seu passado de trabalho escravo. Vem tentando se redimir e anunciado políticas em países em que desenvolve seus produtos de mais transparência e condições de trabalho mais dignas.
– Gregory: ainda é uma alternativa embora sua qualidade tenha decaído muito na última década.
– Richards: perfeita para camisas. O restante de sua coleção é mais weekend mas se seu ambiente não é tão rigoroso, pode render looks de trabalho interessantes.
– PA Concept: marca popular, que não utiliza matérias- primas de alta qualidade em suas peças mas que investe em um bom design, então sempre acho uma marca válida para aquelas compras bem do dia a dia mesmo.
Ainda existem outras em que é possível garimpar peças para o escritório como Shoulder, TVZ, Canal e até a online Amaro, mas nesta é preciso garimpar bastante.
Vai viajar? Nos EUA e Europa você pode tentar marcas como Theory, Banana Republic, J. Crew, H&M.
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